A raiva é provavelmente uma das emoções mais difícil de controlar.
Normalmente associamos raiva a uma sensação desagradável, que chega até nós depois de nos sentirmos injustiçados ou quando alguém que amamos sofreu uma injustiça ou deslealdade. Também sentimos raiva quando há algo que interferência nos nossos objetivos pessoais e nos impede de os concretizar.
A raiva dá-nos o impulso, a força e energia para agir em situações de injustiça, por isso não seria justo dizer que esta é apenas uma emoção negativa. É devido à raiva que sentimos, que muitas vezes temos a coragem de dizer CHEGA, quer a situações ou pessoas que sentimos estarem a aproveitar-se da nossa amizade e empatia.
A raiva pode sim ser uma emoção protetora.
Pensa na última vez que sentiste raiva. Talvez no trânsito? Um colega de trabalho que te irritou? O teu chefe? O teu companheiro? Alguém da tua família? Ou viste alguém a maltratar um animal ou alguém que amas?
Agora pensa, como te sentiste? o que mudou no teu corpo, nos teus pensamentos e na tua energia?
Como já referi, a raiva dá-nos o impulso para agir! É normal que quando sentimos raiva exista um aumento na nossa energia, para que sejamos capazes de nos defender, de lutar. Tudo isto acontece devido à libertação de hormonas, como a adrenalina e cortisol, que levam o corpo a reagir, aumentando o batimento cardíaco e o aporte de sangue e energia para os nossos braços e pernas.
Cada uma das nossas emoções atua em diferentes zonas do cérebro e, no caso da raiva, essa ação ocorre na amígdala.
Muitas são as vezes em que a raiva que sentimos nos leva a reagir antes de pensar. Essa ação é influenciada por uma porção do nosso cérebro chamada de amígdala.
A amígdala, uma pequena estrutura sub-cortical que faz parte do chamado cérebro emocional, o sistema límbico, é ativada por estímulos ameaçadores de forma a garantir a nossa sobrevivência. Atua, assumindo o comando do nosso comportamento, "desativando" áreas cerebrais relacionadas ao pensamento lógico, ao raciocínio e gestão de impulsos, presentes no lobo frontal. A parte racional fica inibida, e acabamos por ter uma reação emocional imediata.
Por ex: quando observamos algo no chão, que nos parece ser uma cobra, a reação imediata é fugir daquela situação, não paramos para realmente perceber do que se trata, para confirmar o que achamos ter visto, afinal pode até tratar-se de um tronco.
Claro que situações destas não têm grandes repercussões, no entanto, se a raiva nos levar a bater em alguém sempre que nos sentimos injustiçados, perdemos por completo o controlo das nossas emoções, perdemos a racionalidade e a lógica.
Hoje em dia, vivemos não só em modo piloto automático mas com uma imensa necessidade de controlar tudo.
Deixar a vida fluir e deixar as coisas acontecerem é algo que poucos conseguem alcançar. Requer confiança, paz, tranquilidade e esperança. Quanto mais queremos controlar o incontrolável, mais raiva sentimos.
Pessoas com baixa tolerância ao desconforto físico, emocional ou espiritual têm uma maior tendência a sentir raiva.
A raiva serve para lidarmos com sentimentos de injustiça. Fornece-nos informações que nos permitem interagir melhor com o Mundo e connosco. A raiva, pela tensão muscular que provoca, aumenta a nossa força e energia, e cria em nós um impulso para a ação que visa defender os nossos direitos e impor limites.
Outras funções da raiva são:
ESQUECE A RAIVA QUE ELA DESAPARECE
Ao ignorarmos um sentimento que persiste permitimos que ele se manifeste de outras formas. Muitas vezes mais fortes e com maior impacto no nosso bem-estar, na nossa saúde, física e emocional.
“Unexpressed emotions will never die. They are buried alive and will come forth later in uglier ways.”
― Sigmund Freud
O TEMPO CURA TODAS AS FERIDAS
O tempo só cura as feridas se tu quiseres, se tu tiveres essa intenção. Se vives à espera que o tempo cure tudo, podes esperar sentado. Para que o tempo cure é preciso perdoar ou dar um novo significado ao que aconteceu, é preciso sempre ver um lado mais positivo da história.
LIBERTA-TE DA RAIVA
Por vezes, a raiva leva-nos a estados de fúria em que nos tornamos mais agressivos, em que gritamos, fechamos portas com força ou até dámos um murro na mesa. Estes estados de ira continuados no tempo, são reforçados no nosso cérebro e tornam-se em comportamentos modelo, em hábitos. Estes comportamentos podem até ajudar-nos no momento em que ocorrem, mas quanto mais nos agarramos a eles, quanto mais gritamos ou quanto mais agressivos formos, mais vamos querer gritar em situações futuras, mais agressivos vamos ser - Neuroplasticidade.
Existem outras técnicas que nos podem ser mais benéficas, e que nos trazem calma e paz em situações de raiva, como procurarmos um local em que estejamos sozinhos por um tempo, até a "poeira assentar", podemos caminhar, praticar um desporto, ou até escrever.
A RAIVA ENFRAQUECE-TE
A raiva dá-te força! Força para seres tu próprio, para defenderes os teus direitos e deveres, para lutares contra injustiças.
SÃO OS OUTROS QUE CAUSAM A MINHA RAIVA
Qualquer emoção nasce dentro de ti, e da tua percepção face a essa situação ou pessoa. Cabe a cada um de nós decidir se queremos que os outros tenham impacto na forma como nos sentimos, e decidam o modo como vemos o Mundo.
Epictetus tem uma frase conhecida sobre a raiva, que refere que se alguém te irrita essa pessoa torna-se o teu mestre.
Any person capable of angering you becomes your master; he can anger you only when you permit yourself to be disturbed by him. People are not disturbed by things but by the view they take of them.
― Epictetus